O presidente do (ainda) maior partido português, o PSD, recusou hoje que a sua vinda a despacho ao MPLA (ainda na versão Eduardo dos Santos/João Lourenço) tenha causado algum mal-estar no Governo de António Costa, salientando o “simbolismo” de uma visita que diz ser uma “ajuda” nas relações entre os dois países.
E foi uma ajuda importante, reconheça-se. Para além da assinatura que renova o pacto de subserviência e bajulação anteriormente subscrito por Pedro Passos Coelho, Rui Rio acrescentou uma cláusula implícita em que, sempre que necessário, o PSD passa a funcionar como sucursal do MPLA em Portugal.
“Não senti nenhum mal-estar com o Governo português, de forma nenhuma”, afirmou Rui Rio quanto questionado pelos jornalistas no final de uma reunião com a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), que hoje decorreu no Porto, acrescentado que “talvez pudesse ter sentido isso se, em vez de agora, tivesse ido lá há dois ou três meses”.
Salientando que as reuniões que manteve com o presidente de Angola e com o ainda presidente do MPLA correram “excepcionalmente bem”, Rui Rio apontou o “simbolismo” do encontro que, “sendo bom para o PSD – que desde o tempo de Cavaco Silva e Durão Barroso sempre teve relações privilegiadas com o MPLA – é, acima de tudo, bom para Portugal”.
Rui Rio tem razão. Desde o tempo de Cavaco Silva e Durão Barroso que o PSD sempre se ajoelhou perante o MPLA. O actual líder do PSD chama-lhe “relações privilegiadas com o MPLA”.
“Para lá de eu ir lá como líder partidário, também fui lá como dirigente político português, independentemente do partido, e foi assim também que a própria comunicação social local me viu. Nesse aspecto é uma ajuda para que as relações entre Angola e Portugal possam melhorar relativamente aquilo que foi este período mais recente”, sustentou.
Questionado pelos jornalistas, o líder do PSD disse não ter comunicado a realização da visita ao Governo português – até porque “não tinha de ser comunicada” — e reiterou que o encontro “foi bom para Portugal”.
“Aquilo que eu vejo é que haverá algumas pessoas incomodadas, que procuram agora atirar areia para a engrenagem procurando estragar aquilo que por Portugal conseguiu ser feito”, acrescentou.
Rui Rio foi recebido na passada sexta-feira em Luanda pelo líder do MPLA, José Eduardo dos Santos, e pelo Presidente angolano e em breve também presidente do MPLA, João Lourenço, tendo nesse dia descrito estas reuniões como “de grande relevo” para Portugal.
Os dirigentes mais recentes do PSD são velhos amigos do regime do MPLA. Mas confundir isso com ser amigo de Angola e dos angolanos é, mais ou menos, como confundir a portuense Ribeira da Granja com o Rio Kwanza. Seja como for, a bajulação continua a garantir apoios. Nesse sentido, Rui Rio (com os outros) não se importa de continuar a considerar José Eduardo dos Santos e João Lourenço como verdadeiros “escolhidos de Deus”.
Rui Rio sabe (repetimos quantas vezes for necessário) que todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos há angolanos que morrem de barriga vazia e que 70% da população passa fome;
Rui Rio sabe que 45% das crianças angolanas sofrem de má nutrição crónica, e que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos;
Rui Rio sabe que no “ranking” que analisa a corrupção, Angola está entre os primeiros, tal como sabe a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos e que o silêncio de muitos, ou omissão, deve-se à coacção e às ameaças do partido que está no poder desde 1975;
Rui Rio sabe que a corrupção política e económica é, hoje como ontem, utilizada contra todos os que querem ser livres, que 76% da população vive em 27% do território, que mais de 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população;
Rui Rio também sabe que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
Mas também é evidente que Rui Rio sabe que ser amigo de quem está no poder, mesmo que seja um ditador, vale muitos votos e outros apoios contíguos.
Seja como for, Rui Rio não devia gozar com a nossa chipala nem fazer de todos nós uns matumbos. É que, ao contrário do que o próprio Eduardo dos Santos pensa, o MPLA não estará eternamente no Poder. E depois, como será?
Previsivelmente, a fazer fé nos múltiplos exemplos conhecidos, veremos Rui Rio dizer que, afinal, o MPLA era um partido cleptocrático e ditatorial. É isso, não é Rui Rio?